Evento da Codes/SSPDS reúne gerações de mulheres em busca do fortalecimento da voz feminina contra todas as formas de violência

27 de agosto de 2025 - 16:40 # # # # #

Texto: Tainá Ribeiro
Fotos: Paulo Cavalcanti

A iniciativa “Vozes que Inspiram: da Proteção à Superação” faz parte do  Agosto Lilás, mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher 

Mulheres do Ceará, vocês são inspiração, coragem e transformação. Foi com essa energia que o evento “Vozes que Inspiram: da Proteção à Superação” reuniu gerações inteiras, crianças, jovens, adultas e idosas, em um mesmo espaço de acolhimento e aprendizado. Estudantes, líderes comunitárias, integrantes de projetos sociais e diversas autoridades compartilharam saberes e experiências, fortalecendo a voz feminina contra todas as formas de violência. 

O evento, uma realização da Coordenadoria de Defesa Social (Codes) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ocorreu na manhã desta quarta-feira (27), no auditório do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), em Fortaleza. A iniciativa integra a programação do Agosto Lilás, mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher, e contou com a presença do secretário da SSPDS, Roberto Sá; e da secretária estadual das Mulheres, Lia Gomes, além de representantes de todas as vinculadas. Cerca de 45 alunas do segundo ano do ensino médio estiveram presentes. 

O “Vozes que Inspiram: da Proteção à Superação” teve como propósito apresentar e reafirmar a rede de proteção existente no estado do Ceará, formada pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp) e Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), que atuam de forma integrada para amparar e defender mulheres em situação de violência doméstica.

Durante a programação, foi realizada uma roda de conversa sobre a importância da rede de proteção no enfrentamento à violência, além da apresentação do trabalho realizado por todos especialistas das vinculadas da SSPDS, que explicaram como funciona essa rede no estado. O encontro também contou com o depoimento de uma mulher que superou a violência doméstica com o apoio institucional e foi encerrado com uma demonstração de técnicas de defesa pessoal.

O secretário da SSPDS, Roberto Sá, falou sobre a importância do evento. “O Vozes que Inspiram, organizado aqui pela Coordenadoria de Defesa Social, juntamente com a Secretaria das Mulheres, na qual a secretaria Lia colaborou muito conosco, é um evento a quatro mãos para aproveitarmos esse mês e conscientizarmos mais ainda as mulheres de que elas precisam denunciar os abusos e as violências que sofrem. E que nós também possamos conversar entre os atores do estado em como melhorar essa rede de proteção à mulher vítima de violência doméstica. Então, é um dia muito importante onde reunimos pessoas de notório saber na área, mas também reúne a sociedade civil organizada para que possa conhecer um pouco mais os seus direitos e também nos trazer sugestões para a melhoria dessa rede de proteção”, comentou. 

A secretária das mulheres, Lia Gomes, detalhou sobre a rede de proteção às vítimas de violência doméstica fortalecida pelo Governo do Estado. “O Governo do Ceará vem ampliando significativamente essa rede de proteção. Ainda este ano, vamos inaugurar duas Casas Regionais da Mulher Cearense e já temos o planejamento para abrir mais 29 casas municipais. Temos muito entusiasmo com as regionais, mas as municipais são ainda mais importantes, porque estão mais próximas da população e facilitam o acesso das mulheres. Essa rede é fundamental, pois, quando uma parte dela falha, a mulher pode acabar não conseguindo o apoio necessário. Por isso, além de estimular as denúncias, inclusive em casos em que o agressor é visto socialmente como uma pessoa ‘boa’, precisamos garantir que, ao chegar a uma delegacia, a mulher receba o acolhimento adequado. Caso contrário, muitas desistem e não retornam mais. Outro ponto essencial é o suporte à autonomia econômica. O Governo do Estado desenvolve diversos projetos voltados para isso, porque muitas vezes o ciclo da violência é mantido pela dependência financeira da mulher em relação ao agressor. Quebrar essa dependência é fundamental para interromper a violência”, destacou. 

O coordenador da Codes, tenente-coronel Weibson Braga, explicou a dinâmica do evento. “Este é o nosso primeiro evento voltado ao enfrentamento da violência contra a mulher, realizado quase no encerramento do Agosto Lilás. A proposta é trabalhar a ideia de proteção à superação, apresentando à audiência, majoritariamente composta por mulheres, mas também com homens, que precisam ter consciência do tema, todo o ciclo de proteção até a superação. Esse ciclo começa com as pesquisas realizadas pela Supesp, que produzem dados. Passa também pelas ações instrutivas da Academia Estadual de Segurança Pública, pelo primeiro acolhimento feito tanto pela Polícia Civil nas delegacias quanto pela Polícia Militar, no contato inicial, incluindo o acompanhamento do Grupo de Apoio às Vítimas de Violência (Gavv) e das Patrulhas Maria da Penha, que atuam em grande parte do interior, da Capital e da Região Metropolitana. Outro ponto fundamental é o trabalho da Perícia Forense. Muitas mulheres têm dúvidas sobre como comprovar que sofreram violência, e na Pefoce serão esclarecidas quais núcleos de perícia podem ser procurados para fundamentar tecnicamente as denúncias contra um agressor. Além disso, o Corpo de Bombeiros Militar contribui com ações de empoderamento feminino, incentivando o autocuidado, a prática regular de atividades físicas e orientações sobre como lidar com situações relacionadas à violência contra a mulher. Tudo isso mostra como os diferentes órgãos atuam de forma integrada nesse ciclo de proteção”, detalhou. 

Depoimento de uma vítima acolhida pelas redes de proteção

Durante a roda de conversa, uma vítima de violência doméstica falou sobre a rede de proteção do Governo do Ceará: “Estou aqui para representar as mulheres que sofrem violência doméstica, seja psicológica, patrimonial ou de outras formas. Muitas vezes o foco está apenas na violência física, mas a violência psicológica abala profundamente, desestrutura e adoece tanto mental quanto fisicamente. Meu intuito hoje é compartilhar um pouco da minha experiência. A equipe do Gavv da Polícia Militar foi muito importante, porque perceberam também a necessidade de estender o cuidado à minha filha, que sofria violência psicológica. Fomos acolhidas e direcionadas para entidades que nos apoiaram, que disseram que somos capazes, que podemos seguir em frente, e que a justiça está do nosso lado. O braço da lei alcança aqueles que acreditam que podem agir impunemente. Muitas vezes temos medo de tomar uma decisão, porque ouvimos constantemente que nada acontecerá ao agressor, mas não é verdade. Hoje sigo em frente com minhas filhas, com o apoio da minha mãe, das minhas irmãs e de toda a minha família. Tenho uma gratidão imensa ao Gavv da Polícia Militar, ao Conselho Tutelar, ao CAPS Infantil e ao CREAS, que nos acolheram, orientaram e mostraram os caminhos possíveis. Esse apoio foi fundamental para que eu pudesse reconstruir a minha vida”, narrou emocionada. 

Alunas do Ensino Médio no evento

Cerca de 45 alunas da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Jenny Gomes estiveram presentes no evento. A professora Mônica Pontes destacou a importância da temática do evento para a formação das alunas. “A ideia é que elas se conscientizem dos seus deveres com a família, com a comunidade em que vivem e, principalmente, que conheçam melhor os diferentes tipos de violência. Muitas vezes elas só ouviram falar de feminicídio, mas não sabem identificar a violência patrimonial, psicológica e outras formas. Essas campanhas são importantes porque mostram onde e como denunciar, e apresentam toda a rede de proteção disponível, afinal, muitas delas convivem com mães, avós, irmãs e tias que também precisam dessa informação. O medo, no entanto, ainda é um grande obstáculo. Muitas alunas dizem: ‘Tia, a gente não denuncia porque não acontece nada’. Esse sentimento de impunidade mantém o ciclo da violência. Por isso, precisamos mostrar que a denúncia é fundamental e que a rede de apoio existe justamente para quebrar esse ciclo”, comentou.