Jovens mediadores de conflito: a prevenção como método à violência

1 de agosto de 2025 - 16:40 # # # # #

Texto e fotos: Ascom Supesp

Eles são jovens, residem em áreas da periferia da cidade de Fortaleza e moldam seus projetos de vida a partir da perspectiva da não-violência, do aprendizado, da colaboração e  do trabalho. A reportagem do Link Supesp entrevistou quatro adolescentes do Projeto Jovens Mediadores, do bairro Curió, coordenado pelo Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PReVio), do Governo do Ceará. A conversa aconteceu no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), no bairro de Messejana.

 

Criado para atender jovens de 18 a 29 anos de idade, o Projeto Jovens Mediadores atenderá diretamente 20 pessoas de cinco territórios do PreVio, sendo Jangurussu, Curió, Granja Lisboa, Vicente Pinzón e Barra do Ceará. O objetivo, fomentar o protagonismo juvenil na resolução pacífica de conflitos locais. 

Alguns vêem na concessão da bolsa, no valor de R$ 400,00 (quatrocentos reais), a oportunidade de melhorar um pouco as condições de vida, ter acesso ao estudo e ajudar a família. Os participantes passam por um treinamento e prestam 20 horas semanais de serviços nas comunidades onde atuam. Um dos pilares do projeto é a implantação de uma justiça restaurativa, de redução de danos, principalmente no âmbito das medidas socioeducativas, tentando atender as realidades da vítima e do infrator.

 Mas quando se está inserido no projeto, as experiências mostram como esse horizonte é ampliado. Joel Souza, 21, um dos mediadores capacitados pelo programa, conta que a história de uma das crianças participantes de um clube de leitura, marcou sua vivência no grupo. “Tudo começou quando falamos da importância da leitura na infância e uma das meninas narrou por meio de uma história o falecimento da mãe. Isso mexeu com todos nós até hoje”, conta Joel, que explica como o projeto ajudou a expandir sua compreensão sobre como lidar com diferentes tipos de personalidade.

Resultado de uma parceria com instituições como o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado do Ceará, Michael Rizi, 27, é o mais experiente do grupo e, na sua visão, um dos desafios é trabalhar com o social. “É outro modelo de organização, me ajudou muito a atua com temas complexos, tendo a construção do círculo de paz como carro-chefe, ampliando os diversos tipos de técnicas, metodologia de ensino e de aprendizados”, explica, complementando que essas ações vão se espalhando por espaços como feirinhas, bibliotecas, cines clube e saraus.

Conflito e sensibilidade

Despertar vocações e missões pessoais. O Jovens Mediadores acaba tendo esse valor e na prática se revela um grande instrumento transformador de realidades. Para Morgana Custódio, de 22 anos, essa perspectiva aconteceu com a experiência em uma escola onde o tema em discussão era o bullying.  “Aparentemente o encontro iria transcorrer normalmente, mas de repente aconteceram várias interferências e algumas crianças começaram a chorar; foi bem marcante esse momento e comecei a descobrir que gosto de trabalhar com crianças, algo que não fazia ideia”, conta Morgana.

Morgana veio por indicação do colega Joel Souza, 21 anos, que também já atuava no projeto e viu na atividade uma forma de expandir algumas habilidades sociais, estar engajado no território e se desenvolver mais pessoal e profissionalmente. É um futuro semelhante ao desenhado pela adolescente Kézia Silva, 21, futura socióloga. “Gosto de trabalhar com o povo, com as pessoas, participar de seminários, de encontros, trocar ideias”, conta Kézia, dizendo que não tinha a mínima noção de como era participar do projeto. “Meu sonho é ser socióloga e agora está mais evidente isso nos meus planos de vida.

Protagonismo juvenil

O Projeto Jovens Mediadores aposta no protagonismo juvenil para fortalecer a Cultura de Paz e a prevenção da violência nos territórios onde o PReVio atua em Fortaleza. Os jovens, moradores dessas comunidades, são capacitados para atuar com metodologias ativas, como círculos de construção de paz, mediação de conflitos e comunicação não violenta.

 

Segundo Avilton Júnior, coordenador executivo de Prevenção à Violência do Ceará, a diversidade do grupo e seu compromisso, aliados à bolsa mensal de R$ 400,00, ao acompanhamento técnico e à integração com equipamentos territoriais, são fatores que garantem a qualidade e a sustentabilidade das ações.

Os impactos são significativos, conforme o coordenador. “Além de ser uma oportunidade para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e profissionais dos jovens mediadores, o projeto realizou mais de 400 encontros restaurativos, impactando diretamente mais de quatro mil pessoas, incluindo crianças, jovens e adultos”, indica Avilton.

Instituições locais, completa Avilton, reconhecem o protagonismo desses mediadores, que se consolidam como agentes de transformação social, fortalecendo vínculos comunitários e promovendo relacionamentos mais saudáveis nos espaços em que atuam.

De mãos dadas com a Justiça

A parceria com a Defensoria Pública ocorre por meio da Escola Superior da Defensoria Pública e do Centro de Justiça Restaurativa, que contribui para o processo de formação dos Jovens Mediadores.

Segundo a defensora pública titular da 5ª Defensoria Pública da Infância e da Juventude e autora do Projeto Centro de Justiça Restaurativa (CJR), Érica Albuquerque, esse trabalho é muito valioso porque no somar de ações e investimentos, “contribuímos para a disseminação da cultura de paz e fortalecemos jovens capacitados a serem instrumentos para a resolução de conflitos em várias regiões de Fortaleza”, completa a também supervisora do Centro de Justiça Restaurativa da Defensoria.

Lançado em outubro de 2024, o Programa de Formação Permanente em Gestão para Resultados na Prevenção à Violência visa formar gestores e técnicos estaduais e municipais que contribuem com políticas públicas para a prevenção da violência nos dez municípios cearenses com maiores índices de criminalidade. Inicialmente, a formação é para quem atua nos projetos do PReVio em Fortaleza e na Região Metropolitana.

Dentro da atribuição da defensoria, por meio da aplicação do Curso de Facilitadores, 24 jovens participaram da parte teórica. Desses, 19 finalizaram a etapa prática  e foram certificados como Facilitadores. A Escola Superior da Defensoria Pública (ESDP),  nesse processo, contribui com a certificação.

>>>Acesse nosso canal SSPDS-CE Notícias no Whatsapp e fique por dentro dos nossos principais assuntos.