“Passado, Presente e Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

19 de janeiro de 2024 - 14:56 # # # #

O terceiro episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” conta a história da Camila Nascimento, aluna do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da PCCE. A trajetória de uma mãe que superou os próprios limites para que seu filho tenha um futuro cheio de possibilidades

Assim como uma policial, uma mãe está sempre pronta para defender suas crias, mesmo que isso signifique colocar a própria vida em risco. É uma guerreira que, a todo momento, tem que estar atenta a tudo o que acontece a seu redor, para proteger contra qualquer perigo. E ela também precisa estar preparada para lidar com situações difíceis. Acumular as funções de mãe e de policial não é para qualquer uma. São missões que priorizam a vida. E, quando acumuladas, tornam praticamente heroica a jornada dessa mulher.

O terceiro episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” conta a história da Camila Rabelo Xavier Nascimento, aluna do Grupo 04 da Turma 2/2021, do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) ministrado na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp). A trajetória de uma mãe que superou os próprios limites para que seu filho tenha um futuro cheio de possibilidades.

Passado

Natural de Caucaia, cresceu na Região Metropolitana de Fortaleza em uma família simples. Com o pai autônomo e a mãe dona de casa, viveu uma infância tranquila. “Minha infância foi normal, humilde, sem muita riqueza, mas tranquila. Sou só eu e meu irmão. Não fui uma criança que tinha um sonho, que sabia que ia ser quando crescer, eu não tinha isso”, conta a aluna.

Ao terminar o ensino médio, começou a trabalhar em uma loja de decoração. O emprego durou pouco tempo. Em seguida, começou uma nova jornada, dessa vez, em uma casa lotérica, onde permaneceu por cinco anos. Foi durante esse período que ingressou no Curso de Gestão de Recursos Humanos. 

Camila era auxiliar administrativo em uma escola quando descobriu sua gravidez. Uma gravidez que mudaria sua história e sua forma de enxergar o mundo. “No começo da gravidez eu tive um deslocamento de placenta. Sangrei e tive uma gravidez muito difícil. Tive que ficar em repouso e pegar licença da escola onde trabalhava. Infelizmente, meu filho nasceu antes do tempo, nasceu prematuro de vinte e quatro semanas e ficou seis meses internado, porque era prematuridade extrema que geralmente não resistia. Os médicos não tinham grandes expectativas com ele, mas com o passar das semanas ele foi surpreendendo a equipe médica. E o médico disse que aquele guerreirinho era resistente. Minha vida passou a ser no hospital. Meu marido me deixava e me buscava todos os dias”.

Por conta da prematuridade, o filho de Camila, o pequeno Murilo, durante a internação, teve os vasos sanguíneos do cérebro rompidos, deixando-o com uma hemorragia interna na cabeça. Começava ali o diagnóstico de Paralisia Cerebral. “Essa hemorragia podia ser muito grave, média e pouco. A dele foi a mais grave. Ele poderia ter ficado com a cabecinha grande, ter que usar a válvula para poder drenar o sangue, ou o próprio organismo absorver o sangue e cicatrizar a lesão. Foi o que aconteceu no caso dele. Foi grave, mas o próprio organismo cicatrizou a lesão e absorveu a hemorragia. Por conta dessa lesão, ele comprometeu os membros inferiores dele. Ele tem os movimentos, só que ele não controla. Ele tem os pés para dentro, e precisa usar a cadeira de roda para se locomover e o andador. Ele está em desenvolvimento. E ele faz tratamento com equipe multidisciplinar, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudióloga e psicólogo. Mas ele estuda, vai pra escola. Compreende bem as coisas, a limitação dele é só física mesmo”, conta Camila orgulhosa e emocionada.

A partir de então, Camila passou a dedicar-se ao filho e às suas necessidades, por conta disso, foi demitida da escola em que trabalhava. Foi nesse momento que o serviço público apareceu como uma opção e uma esperança de estabilidade e de qualidade de vida para seu filho. “Nessa escola onde eu trabalhava, tinha um rapaz que era concurseiro.  Aí ele me incentivou a estudar pra concurso.  Eu comecei a estudar, fui e me matriculei em um cursinho. Quando Camilo Santana, o governador da época, anunciou que ia lançar o edital da Polícia Civil, eu resolvi apostar.  Comecei a gostar, comecei a ver o que a Polícia Civil faz e gostei. No dia da prova, eu fui, lógico, com esperança de obter a aprovação, mas eu vi uma prova bastante difícil. Quando saiu o resultado, aprovada. Lá no finalzinho, deu certo, graças a Deus. E eu sei que eu tirei essa força do meu filho “, conta a futura inspetora.

Presente

Agora, como aluna do Curso de Formação, Camila conta sobre os desafios de uma rotina longe do filho e a experiência de aprender a ser uma policial civil na Aesp. “Os primeiros dias foram bastante difíceis. Porque eu tinha uma rotina totalmente diferente, não trabalhava. E passar o dia inteiro aqui longe dele, também foi difícil. Estou me adaptando, já estão bem melhores os dias, mas os primeiros dias não foram fáceis. E o curso em si, eu tô achando maravilhoso, conhecendo os casos que os professores trazem, como que se faz uma investigação. Aquelas investigações que a gente assiste na televisão, que a gente nem imagina como foi descoberto, aqui a gente está passando a conhecer como a polícia trabalha”.

Futuro

Para o futuro, Camila não descarta nenhuma possibilidade de atuação na Polícia Civil e nas salas de aula da Aesp, seja como aluna ou professora. “Eu pretendo atuar bastante, pretendo atuar na Polícia Civil de forma ampla. Se for para ir para a rua, eu vou, se for para investigar, eu vou, se for para estar cumprindo mandato, entregando intimação, eu vou. Eu quero aproveitar tudo que tiver ao meu alcance. Quero voltar à Academia um dia, talvez, como professora, Tenho vontade. Não é uma possibilidade descartada, não. Tenho essa vontade de me especializar, fazer os cursos que a Academia também dispõe pra gente. São amplas as possibilidades”.

Mas as prioridades são os planos que ela tem para Murilo. “Hoje a gente tem uma vida financeira restrita, mas ele é minha maior prioridade. Para meu filho, eu pretendo ampliar mais as terapias dele, pagar algumas especialidades. Pagar um curso de inglês pra ele. Dar a ele qualidade de vida”, conclui a aluna.