Sonho possível: 12ª DHPP da Polícia Civil promove reencontro entre pai e filho após duas décadas de distância
30 de agosto de 2023 - 13:16 #12a DHPP #COVID-19 #Desaparecidos #PC-CE #Pefoce #PMCE
Texto: Lucas Memória / Ascom SSPDS Fotos e vídeo: Paulo Cavalcanti / Ascom SSPDS
Enquanto as despedidas abruptas causadas pela pandemia encorajaram o filho a procurar o pai, o genitor lutava, com apoio do capacete Elmo, contra a Covid-19. O reencontro foi promovido pelos policiais civis da 12ª DHPP
Mais de duas décadas e 107 quilômetros separavam Adriano Camilo (39) e Joaquim Mesquita (63), filho e pai, respectivamente. O distanciamento físico e temporal se manteve até o começo da pandemia de coronavírus. Com tantas despedidas abruptas e a chegada do primeiro filho, Adriano decidiu buscar o pai, com quem não tinha nenhum tipo de contato desde a infância. Enquanto o desejo do reencontro se fortalecia, o genitor lutava para sobreviver à Covid-19. Sem saber da saúde do pai, mas encorajado, quase que instintivamente, pela vontade de ganhar o afeto paterno, o homem foi orientado a procurar a 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), unidade especializada da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), em investigar casos de desaparecimentos.
Após um mês de investigação, os policiais civis promoveram o reencontro familiar no último dia 8 de agosto de 2023. “Era tanta gente conhecida indo embora e eu me tornando pai naquele momento [da pandemia]. Veio aquela vontade de buscar ele, nem que fosse apenas para entender o que tinha acontecido. A paternidade me trouxe essa maturidade”, comentou Adriano Camilo.
Para o delegado Luís Rodrigues, titular da 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), esses reencontros emocionam não somente os familiares, mas todos os policiais civis envolvidos. “Isso é uma outra faceta do trabalho investigativo. Geralmente, a gente investiga para localizar e identificar a autoria, materialidade e circunstância de um crime. E agora, investigamos para restabelecer vínculos familiares. Isso é muito bom. Para a gente, é muito gratificante se sentir mais próximo da sociedade. Todos nós temos famílias e, realmente, você poder recriar vínculos que foram quebrados por alguma circunstância da vida, nos deixa muito felizes mesmo. É um pai encontrando um filho, um irmão encontrando o outro irmão. E as possibilidades daquele encontro gerar muita felicidade para aquelas pessoas que estavam separadas, às vezes sozinhas”, comenta o delegado.
Morador de Tururu desde a infância, quando o interior era um distrito de Uruburetama, Joaquim Mesquita buscou, durante a juventude, a estabilidade financeira ao morar durante alguns anos em São Paulo e Fortaleza, cidade onde conheceu a mãe do seu filho, Adriano Camilo. O relacionamento terminou, mas o filho cresceu e mesmo com poucos encontros durante a infância, amadureceu o interesse pelo reencontro. Sobrevivente da Covid-19, no período mais crítico da pandemia, quando a vacinação em massa ainda não tinha iniciado, ele contou com apoio do capacete Elmo, equipamento de respiração assistida criado por pesquisadores cearenses, para vencer a doença. Ainda se recuperando das sequelas e com traumas causados pelo período de vírus e isolamento social, ele contou com apoio da família para aguardar a data do reencontro.
“Eu fiquei assim quando recebi uma ligação do inspetor Lindomar. Passei por uns momentos difíceis com a Covid-19, foi algo que me abalou muito. Passei treze dias no hospital e quase faleci, mas Deus está no comando. Fácil não foi. Quando me procuraram para encontrar com o Adriano, fiquei sem saber como reagir, conversei com a minha família e decidi vir. A pandemia levou muita gente e só estamos aqui contando essa história por Deus ser muito bom”, detalha.
Depois do primeiro impacto do reencontro, um pouco frio ainda por conta de tantos anos de separação, a conversa fluiu. Enquanto falavam sobre o passado, mencionando outras pessoas, fizeram chamadas para falar com outros parentes que estavam ansiosos pelo momento e o seu Joaquim conheceu, por fotos, o neto que nasceu na pandemia, em Fortaleza. Distantes dos olhos curiosos que acompanharam o diálogo inicial, os dois trocaram telefones e combinaram novos encontros para ampliar os laços familiares.
Possibilitar um reencontro entre dois parentes que não se encontravam há tempos é um trabalho sensível e que exige técnica dos policiais civis e sobretudo, empatia. Colocar-se no lugar, não somente daquele que procura, mas também daquele que é procurado. Antes do contato presencial entre as duas partes envolvidas, a equipe conversa, individualmente, com cada um, para compreender o que aconteceu e a melhor maneira de promover essa interação depois de tanto tempo. “Muita gente nem conhece esse papel da Polícia Civil, que é um lado mais social, que é trazer felicidade, realização para uma pessoa. O caso do filho que não via o pai há muitos anos, com certeza [o reencontro] vai mudar a vida dele. Ele se tornou pai faz pouco tempo, então trazer essa sensação de alegria para uma pessoa, com certeza é muito gratificante e nos realiza como profissionais. Vai além do serviço padrão da Polícia Civil para prestar um serviço social”, comenta o inspetor da PC-CE, Ravel Peixoto, um dos envolvidos no atendimento.
O abraço de pai e filho promovido em Tururu não é uma situação isolada na rotina da 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da PC-CE. Somente entre janeiro e julho deste ano, 472 pessoas foram localizadas com vida. Além dos reencontros, a unidade especializada investiga os casos de desaparecimento em Fortaleza e presta suporte, quando necessário, às investigações das delegacias de interior, por conta do conhecimento técnico e humanístico da 12ª DHPP. As diligências contam, em alguns casos, com apoio de outras forças e órgãos, como a Polícia Militar do Ceará (PMCE), Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), guardas municipais, gestão de hospitais, casas de acolhimento, entre outros.
Localizados no Ceará
O trabalho realizado pelas Forças de Segurança do Ceará para a localização de pessoas desaparecidas é exitoso. Considerando o período entre janeiro e julho deste ano, houve um aumento de 22,4% no total de pessoas encontradas em todo o território estadual. Foram 780 localizados nos sete primeiros meses de 2023, contra 637 em 2022. Os dados foram extraídos pela Gerência de Estatística e Geoprocessamento (GEESP) da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Como registrar?
Para registrar um caso de desaparecimento ou buscar informações sobre parentes que perderam o contato, basta fazer um Boletim de Ocorrência na 12ª DHPP, em Fortaleza, com o máximo de informações possíveis relacionadas ao parente, como o nome, possíveis endereços, pessoas próximas, entre outros detalhes que possam facilitar as buscas. Em casos de desaparecimentos, a PC-CE reforça não ser necessário aguardar 24 horas para a formalidade.
As redes sociais oficiais da 12ª Delegacia do DHPP também são aliadas no processo. Diariamente, os perfis no Instagram e Facebook são atualizados com informações sobre os casos investigados, além do recebimento de denúncias via direct.
Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas
A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), sendo celebrada anualmente em 30 de agosto. O objetivo é unir líderes e entidades para dar resposta às famílias que buscam reencontrar entes desaparecidos.