Violência psicológica: a sutileza da prisão sem grades
7 de agosto de 2021 - 09:31 #Damps #Lei Maria da Penha #PC-CE
A violência psicológica deixa marcas invisíveis no corpo, mas profundas em sua alma
“Não faz isso, mulher não deve se comportar assim”, “Isso não é roupa para mulher comprometida”, “Você fica feia de maquiagem”, “O que você quer falando com elas?”, “Você só pode estar louca”. Em algum momento da sua vida, você já ouviu alguma dessas frases? Se a resposta for sim, então provavelmente você já foi vítima de violência psicológica.
Definida pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), a violência psicológica é entendida como “qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”. As condutas se tornaram crimes previstos no Código Penal, no artigo 147-B, desde o último dia 28 de julho.
Para entender melhor do que se trata a violência psicológica, conversamos com a psicóloga do Departamento de Assistência Médica e Psicossocial (Damps) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), Regina Azevedo, para falar sobre a temática.
Para a profissional, ao contrário da violência física, a agressão psicológica é, muitas vezes, invisível. “Em diversos casos, existe a necessidade da vítima se ver como vítima, pois o abuso emocional foi naturalizado em uma sociedade machista, dificultando a percepção da vítima e aumentando a insegurança das mulheres em denunciar. E esse comportamento de abusador acaba se perpetrando de pai para filho”, ponderou Regina.
Ainda segundo Regina, o dano emocional causado na mulher vítima de violência psicológica prejudica diversos fatores no dia a dia dela. E esse é um dos sinais de alerta para procurar ajuda. “O abalo psicológico atrapalha a rotina e vai prejudicando-a como mulher, profissional, família e mãe. Até seus valores e crenças passam a ser questionados. Por fim, acaba criando uma prisão invisível, e essa mulher se torna isolada e sem rede de apoio.”
A psicóloga explica que a violência psicológica pode ser tão dolorosa quanto a física ou a sexual e faz o alerta que esse tipo de violência “é a porta de entrada para os outros tipos de abuso. É o início de um ciclo de violência. Daí é tão importante que as vítimas consigam romper essa barreira logo no início. Talvez detectando a problemática cada vez mais cedo, consigamos diminuir o número de mulheres agredidas ou mortas”, disse ela.
É considerada violência psicológica
– Ameaças;
– Constrangimento;
– Humilhação;
– Manipulação;
– Proibição de estudar, viajar ou falar com familiares e amigos, causando o isolamento da vítima;
– Vigilância constante, quando o abusador busca controlar a rotina e exige que a vítima reporte a ele tudo o que faz e os lugares onde está, geralmente ligam a todo o tempo e aparecem de surpresa nos lugares;
– Chantagem;
– Ridicularizar, diminuir a autoestima da vítima, fazer piadas que a faça se sentir inferior;
– Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sua inteligência, memória e sanidade (também conhecido como gaslighting)
Quais as consequências da violência psicológica?*
Os danos causados à saúde emocional não são poucos. A reincidência dos abusos psicológicos podem iniciar uma reação estressada, explosiva, ansiosa e de culpa em relação ao abusador, inclusive gerando uma confusão de sentimentos na vítima. Mas com o passar do tempo, ela pode desenvolver alguns distúrbios como crises de ansiedade, baixa autoestima, retraimento social e, consequentemente, isolamento, podendo evoluir para casos mais graves como a depressão.
A conduta repetitiva da rotina de agressão psicológica faz com que a vítima perca o equilíbrio necessário para ter uma vida saudável. Porém, diferentemente das doenças físicas que provocam sintomas fáceis de identificar, os sinais da violência psicológica são mais difíceis de interpretar.
Cabe ressaltar que a violência emocional tem o objetivo de causar sofrimento a uma das partes. O crime se perpetra por meio de críticas maldosas, humilhações, acusações, xingamentos, ofensas, desprezo, ironia, ameaças veladas, silêncio como forma de punição, controle de todos os passos da vítima, frases ditas com o propósito de confundir e outros comportamentos são repetidos pelo abusador ao longo do tempo. Por consequência, as vítimas de abusos psicológicos geralmente se sentem infelizes, mesmo que aparentemente tenham a vida que desejam ou uma vida considerada perfeita, e costumam ficar tristes sem saber o motivo. Não é incomum o aparecimento de outros sintomas como a vontade de chorar, o desinteresse por coisas que outrora foram objeto de vontade, além do medo e da anedonia – definida como a perda da capacidade de sentir prazer ou de se divertir.
*Com informações do site da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)