Dia da Cavalaria: histórias que marcam o dia a dia do RPMont da Polícia Militar do Ceará

9 de maio de 2020 - 08:00 # # # # #

Fotos: @cavalariapmce
Fotos ensaio: Mateus Dantas

A relação entre o homem e o cavalo esteve presente em diversos acontecimentos que hoje ajudam a contar a história da humanidade. Durante a evolução do homem, entre conquistas e guerras, as sucessivas civilizações adotaram os equinos como importantes parceiros, em razão de sua forte musculatura, de sua velocidade e de sua personalidade suscetível ao adestramento. Por isso, em comemoração ao dia 10 de maio, que marca o Dia da Cavalaria, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) preparou um especial em alusão à data sobre a atuação do Regimento de Polícia Montada (RPMont), a Cavalaria da Polícia Militar do Ceará (PMCE), que possui 181 anos de história. Atualmente, o seu comandante é o Tenente Coronel PMCE Níbio Araújo Pinto.

O dia a dia dos homens e mulheres lotados no RPMont se assemelha a uma vida campestre, com direito a contato direto com a natureza e com todas as características que compõe esse ambiente. A adaptação é fundamental para um bom relacionamento entre equinos e profissionais de segurança, refletindo diretamente na execução das atividades pertinentes à Cavalaria. Com foco na prevenção e na ostensividade, o RPMont realiza o policiamento em áreas onde habitualmente outras modalidades possuem mais dificuldade, como é o caso de praias, dunas, regiões próximas a mangues, vielas e ruas estreitas. Hoje, na Capital, as equipes estão concentradas em comunidades onde são registrados os maiores índices criminais, em apoio às equipes do Policiamento Ostensivo Geral (POG).

Os próprios animais chamam a atenção em razão do porte, mas outros pontos na estrutura física corroboram com a presença marcante da Cavalaria por onde ela passa. É o caso das batidas das ferraduras ao solo, que atraem olhares curiosos de residentes em áreas urbanas, tão acostumados com os barulhos mecânicos dos veículos.

“Normalmente trabalhamos em esquadras, compostas por seis conjuntos; quadras, quatro conjuntos; ou trincas, três conjuntos. Lembrando que cada conjunto é formado pelo policial e seu cavalo. As formações variam dependendo do objetivo e das áreas de atuação. Locais onde é necessária uma maior presença da Polícia e, durante o horário noturno, o ideal é o emprego de formações maiores, como as esquadras. No caso de busca pessoal a indivíduos suspeitos, ocorre o apeamento, quando o policial desce do animal e realiza a abordagem em solo, permanecendo, no mínimo, um dos componentes responsável pela guarda dos animais”, explica o 1° Tenente PMCE Rommel Arrais, oficial lotado no RPMont.

Ele explica ainda que caso seja necessária a condução de algum preso até um Distrito Policial durante esse trabalho ostensivo, a equipe montada assume uma viatura e realiza o procedimento. “Em todo serviço há sempre uma viatura de apoio para qualquer demanda referente ao policiamento montado. Quando os PMs seguem para a condução da ocorrência, os policiais que estavam na viatura assumem a cavalhada até o encerramento do serviço”, disse.

Outra modalidade de atuação do RPMont ocorre durante os grandes eventos, como em jogos de futebol, shows e em datas comemorativas como Carnaval, Semana Santa e Réveillon. No ano de 2019, a Cavalaria realizou ações de choque montado em 180 locais com grande concentração de pessoas. Neste ano, foram 19 até o período de isolamento decretado pelo Governo do Ceará, para evitar a disseminação do novo coronavírus (Covid-19).

Adestramento, cavalhada e histórias

A Cavalaria possui atualmente 164 animais. Alguns desses foram adquiridos por meio de processos licitatórios, mas a maior parte, através da ‘remonta’, que é procriação realizada mediante o acompanhamento veterinário no próprio Regimento. O 1°Tenente Rommel explica que, entre os animais destinados à procriação, está o garanhão específico para reprodução da raça Brasileiro de Hipismo. O Land Mandrak, como foi batizado, possui as melhores características para o uso em ações policiais.

“É a raça ideal para policiamento, porque é um cavalo com uma melhor conformação física, enérgico e corajoso. Além dele, nós possuímos oito éguas, que são as nossas matrizes. O acompanhamento desses animais e desse processo de procriação é realizado por meio do nosso Departamento Médico Veterinário (DMV). Ao nascerem e atingirem a idade ideal, os animais passam por treinamentos específicos e futuramente serão utilizados no policiamento”, explica.

Antes de serem empregados nas atividades do RPMont, os cavalos passam por um período de adestramento denominado doma racional, que não utiliza nenhum método de violência ou de sofrimento ao animal. Cinco policiais militares integram a equipe responsável pelo treinamento dos potros e potras, como são conhecidos os cavalos e éguas, respectivamente, que ainda, jovens, passarão por esse processo. É nessa fase que os equinos são submetidos a oficinas de inquietação sonora e visual para se adaptarem às mais variadas situações que enfrentarão nas ruas.

“Quando o animal atinge por volta de quatro anos de idade e o processo de doma é finalizado, ele é disponibilizado a um policial militar, que o monta no próprio Regimento para se habituar em um primeiro momento. Isso porque cada equino possui as suas especificidades e seu temperamento. Depois disso, ele passa, gradualmente, a empregar o animal nas atividades de policiamento”, explica.

É nessa etapa que começa o vínculo entre equino e cavalariano, e como se diz no linguajar dos policiais que atuam no RPMont, é o momento que “formou o conjunto”. A partir disso, o animal ficará sob os cuidados do profissional de segurança, que terá o contato diário com ele, sempre atento a qualquer problema que venha a acometê-lo.

Com o nascimento de um novo conjunto, sempre nascem também grandes histórias. Uma dela é contada pelo soldado PMCE Victor Bruno Dantas, que ingressou no RPMont em 2014. “Cheguei à Cavalaria na metade do ano de 2014. Sempre tive uma vontade muito grande de trabalhar lá e meu Curso de Formação foi no RPMont. Quando saiu a minha transferência foi uma alegria muito grande tanto para mim quanto para minha esposa”, revela.

Quando chegou ao quartel, Dantas participou do adestramento de Iara, uma égua da raça Brasileiro de Hipismo. Desde então, Dantas e Iara são um conjunto inseparável no RPMont. “Chegando lá, eu fui para a parte de doma do quartel, onde tive a oportunidade de terminar o adestramento com a Iara, que tem me acompanhado durante todo esse tempo”, disse.

De lá para cá foram vários patrulhamentos ostensivos diários, deslocamentos para atuarem durante grandes eventos e também desfiles de 7 de setembro em Fortaleza. A relação entre o soldado Dantas e a Iara é tão forte, que a equino participou do álbum de fotografias de gestante feito pela esposa do policial militar, no ano de 2018. Um ano depois, Dantas e Luana Freitas, esposa do PM, retornaram ao RPMont para realizar outra sessão de fotos com Iara. Dessa vez, com a pequena Sofia Freitas, de um ano de idade, que teve a oportunidade de interagir com o animal.

“Nós gostamos muito dela. A Iara é como se fizesse parte da minha família”, ressalta. Hoje, Iara está afastada do policiamento ostensivo por ter dado à luz um potro de nome Quinaro. Em junho deste ano, ela deverá retornar às atividades junto ao seu cavalariano.

Projetos sociais

Outros trabalhos desenvolvidos pela Cavalaria são os projetos sociais. Um deles é o “Cavaleiros do Futuro”, que funciona desde 2006 e tem como foco atuar de forma preventiva com crianças e adolescentes residentes em áreas de vulnerabilidade social próximas ao quartel, no bairro Cambeba, em Fortaleza. A iniciativa é realizada em parceria com a Prefeitura de Fortaleza e promove atividades musicais, culturais, esportivas e instruções de equitação. São 120 beneficiários de 10 a 17 anos, que são atendidos durante o período de contraturno escolar.

“Um destaque importante é que alguns desses jovens, ao finalizarem o período no projeto, se destacam e acabam sendo contratados por hípicas em nosso Estado. Outro detalhe positivo é que possuímos equipes de crianças e adolescentes organizados por níveis de equitação. Aqueles mais avançados participam de competições hípicas aqui no Ceará, utilizando os nossos cavalos”, revelou Rommel.

O segundo projeto social da Cavalaria é o Equoterapia, realizado através do Centro de Equoterapia da PMCE, que promove um método terapêutico, que utiliza o cavalo no campo biopsicossocial e dentro de uma abordagem multidisciplinar nas áreas da saúde, educação e equitação. O tratamento tem como foco pessoas com necessidades especiais e também profissionais de segurança que necessitem dos benefícios promovidos pela terapia com os equinos. Atualmente, 45 praticantes são atendidos pelo projeto, entre eles dois policiais militares. A iniciativa existe há 24 anos.

A equipe é composta por policiais militares do RPMont, uma assistente social, uma psicóloga, uma pedagoga, um fisioterapeuta e um equitador. Todos os profissionais envolvidos possuem capacitação em equoterapia pela Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), que é o órgão no Distrito Federal que normatiza as atividades do gênero em todo o País. Os atendimentos ocorrem de segunda a sexta e é dividido em dois momentos. O primeiro corresponde à própria equoterapia, quando os praticantes têm o contato com o cavalo das 8 às 10 horas. Depois disso, a equipe fica à disposição para a realização de outros atendimentos, inscrições e também de avaliações psicológicas e fisioterápicas de novos beneficiários.

“O benefício é motor, mas também mexe muito positivamente com a parte cognitiva. Principalmente porque atendemos muitas crianças com Transtorno do Espectro Autista. Muitas vezes elas chegam bastante retraídas e tímidas, e com o tempo, vão criando o hábito de ter o contato com o cavalo, de levar uma cenourinha para alimentar o animal, de participar do banho e de acompanhar outras atividades. A equipe é fundamental para a interação com elas. A depender do praticante, colocamos uma caixinha com música na sela, para que a criança cante e interaja com todos. É uma série de exercícios e atividades que são feitas para melhorar o máximo possível a qualidade de vida de todos”, revela o 1°Tenente Rommel Arrais, que também é coordenador do projeto.

Serviço

Para mais informações sobre os projetos sociais desenvolvidos pelo RPMont, o espaço fica na sede da Cavalaria da Polícia Militar, situada na Avenida Washington Soares, 7250, Cambeba. O telefone para contato é (85) 3101-3581. Em razão da pandemia de coronavírus, os atendimentos foram suspensos temporariamente como medida de segurança.