Pefoce sedia II Encontro Gratidão para reconhecer famílias doadoras de córneas

13 de setembro de 2019 - 18:55 # # #

A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) e o Banco de Olhos do Ceará (BOC), realizaram, nesta sexta-feira (13), o II Encontro Gratidão. A celebração ocorreu como forma de reconhecimento e homenagem às famílias doadoras de córneas do nosso Estado e em alusão ao ‘Setembro Verde’, mês de conscientização para a doação de órgãos. A parceria firmada entre a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e a Secretaria da Saúde (Sesa) através da Pefoce e o BOC resultou no aumento de captações de córneas no Ceará e fez zerar a fila de espera por córneas. Desde o início das captações na Pefoce, em 2016, o BOC recebeu 3.013 córneas e zerou a fila de espera já no primeiro ano de parceria. Hoje, o Estado exporta córneas para outros 17 Estados, dando exemplo de sensibilidade e conscientização pela causa.

Neste II Encontro Gratidão, as famílias que se sensibilizaram e disseram “sim” para a doação, mesmo em meio à dor da perda, foram acolhidas novamente na Pefoce, desta vez, para receber o muito obrigada de todos. Balões nas cores verdes que simbolizam a esperança e com o a singela palavra “Gratidão” resumiu um pouco do sentimento que tem sido assimilado cada vez mais pela população cearense. No mês de setembro do ano passado a Pefoce e o BOC também receberam as famílias doadoras para agradecê-las.

A coordenadora da Central de Transplantes do Ceará da Secretária da Saúde, Eliana Regia Barbosa, participou do encontro para dizer pessoalmente a todas as famílias um “muito obrigada!”. Eliana Régia conta que cinco anos antes da parceria entre as duas secretarias, havia uma espera de até seis meses para que se recebesse uma doação de córnea. “ A parceria das duas secretarias foi fundamental. Nós passamos anos com a fila de espera de até 6 meses para receber uma doação, mas quando houve a disponibilidade e inclusão da Pefoce, já nos primeiros seis meses nós zeramos a fila de espera. O Ceará é exemplo para outros Estados e nós recebemos muitos interessados em conhecer e implementar o nosso modelo”, revela.

Ângela Maria retornou à Pefoce, hoje, após doar as córneas do seu esposo, em 2017. Ela voltou com a sogra e o filho para participar do encontro com as demais famílias doadoras. Ela conta que desde quando soube da triste notícia da perda do marido, ela já tinha a intenção de doar o que pudesse do seu esposo, pois ele já era um assíduo doador de sangue. Mas que o atendimento do acolhimento realizado pelas servidoras da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) ajudou a família inteira a decidir pela doação e todos se sentiram bem com o gesto. “Ele era meu filho, e nós doamos as córneas justamente pensando em fazer o bem ao próximo. Meu sonho era conhecer a pessoa que agora enxerga com os olhos dele”, ressalta dona Vânia Maria, sogra de Ângela.

A perita Geral adjunta do Ceará, e médica perita legista, Verbena Cortez, conta que para a Pefoce, abrir as portas e receber novamente estas famílias revela a parte humana no órgão. “Através desse trabalho da captação e doação das córneas, nós mostramos que aqui também promovemos a vida e a esperança”, conclui.

O encontro contou com ato ecumênico, onde reuniu representantes da igreja católica, da igreja evangélica e do espiritismo. Os representantes de cada religião disseram palavras de conformo, de amor e de agradecimento pela compreensão e amor das famílias. As falas muito emocionantes dos líderes religiosos foram sucedidas de muita fraternidade e abraços das famílias presentes que também foram reconfortadas com arranjos musicais.

Exportando

A parceria firmada entra a SSPDS e a Sesa foi concretizada no segundo semestre de 2016 e neste período possibilitou a captação de 491 córneas. Atualmente, já são mais de 3 mil captações feitas na sede da Pefoce, em Fortaleza, o no Núcleo da Pefoce da região do Cariri, situado em Juazeiro do Norte. Também há projetos de expansão para captação de córneas em outros núcleos do interior do Ceará. Com a fila zerada, ocorre exportação de córneas para cerca de 17 Estados, entre os que mais recebem córneas do Ceará estão: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso e Maranhão foram os que mais receberam córneas captadas no Ceará. Seguidos por Alagoas, Acre, Bahia, Rondônia, Sergipe, Piauí e Tocantins.

Captação

As famílias de vítimas de mortes violentas, aqui englobam os crimes violentos letais intencionais (CVLI), suicídios e acidentes em geral, comparecem à Pefoce e recebem o primeiro atendimento na sala de acolhimento, pertencente à Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), onde a questão legal da identificação da vítima é encaminhada. Após cumprida a etapa burocrática, é feita uma busca ativa por possíveis doadores, em uma sala do banco de olhos. Os familiares são atendidos por uma equipe composta de enfermeiros, auxiliares de enfermagem e assistentes sociais.

O doador deve ser identificado, tem que ter entre 2 e 65 anos, a causa da morte tem que ser conhecida e a morte deve ter acontecido há menos de 12 horas. Dos corpos que são levados à Perícia Forense, 30% têm esse perfil para doação. De todos os corpos com perfil para doação, 70% das famílias que são entrevistadas concordam que a captação seja realizada.

O procedimento só é possível ser realizado na Pefoce devido à estrutura da Comel, que possui câmara fria que mantêm o corpo da pessoa em um estado de conservação exigido para que o procedimento aconteça, obedecendo todos os parâmetros necessários. Por se tratar de um tecido, a córnea no corpo humano, em condição adequada de refrigeração, pode ser retirada até 12 horas depois da parada do coração. Após a captação, o tecido vai para o banco de olhos, onde é preservado e, em seguida, disponibilizado para transplante.