Projeto de coaching na Comunidade do Gereba leva ensinamentos para uma nova perspectiva de vida

23 de fevereiro de 2018 - 20:18 # #

Um projeto pioneiro de coaching oferece novos caminhos para transformação da carreira profissional e da vida pessoal de moradores da comunidade do Gereba, situado na área do Grande Jangurussu, em Fortaleza. A iniciativa tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional de crianças, adolescentes e mães da comunidade. O projeto tem a supervisão da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS/CE) e conta com a parceria de profissionais da área de coaching da Federação Brasileira de Coaching Integral Sistêmico (Febracis). O primeiro encontro das 90 pessoas inscritas para participar do evento aconteceu, na tarde desta sexta-feira (23), na sede da organização não-governamental Fundo de Apoio Comunitário (FAC), que atende crianças carentes da redondeza. O secretário da SSPDS, André Costa, e o escritor, coach e presidente da Febracis, Paulo Vieira, deram as boas-vindas ao público.

O momento foi de traçar novos rumos e abrir novos cenários para transformar a vida dos moradores da comunidade. “Esse coaching é destinado a crianças, adolescentes e mães como uma das ações para treinar essas pessoas para terem uma nova visão de futuro, uma nova perspectiva de vida, que elas compreendam como estabelecer metas e como buscá-las. Do mesmo jeito que a gente quer trazer outros cursos para que as pessoas aprendam uma atividade para conseguir um ofício, é importante que elas também saibam se motivar e que tenham a visão de que podem mudar a vida delas. A gente está fazendo todo esse trabalho com a Polícia aqui sendo coadjuvante, mas o protagonismo são as ações sociais. Nosso maior intuito é proteger a população e transformar a vida dessas pessoas”, pontua o secretário André Costa.

Para o coach Paulo Vieira, a experiência na área de coaching é enriquecedora e um fator de transformação para a vida dessas pessoas. “Nosso objetivo é combater a miséria da estrutura emocional. Nós entendemos que a emoção é o processo, o caminho da restauração humana. Se o ódio, a violência, a amargura, a tristeza, a ira surgem no coração, é lá que nós temos que sanar a estrutura emocional. Trabalhar essa estrutura emocional deficiente e disfuncional é o que nós estamos fazendo aqui, com as crianças, os adolescentes e com as mães. E queremos em breve chegar aos pais, numa restauração emocional e recuperação das emoções, da estrutura e da inteligência emocional”, explicou.

Sobre o impacto que essa formação terá na melhoria dos índices criminais da comunidade e do entorno, Paulo acredita que o cerne do problema está nos lares. “Eu vejo as pessoas falando que o problema está no entorno. O problema não está no entorno, o entorno é a manifestação do problema. O problema está dentro de cada lar, de cada casa, cada pai e mãe. E esse pai e mãe com emoções disfuncionais machucam os seus filhos por assédio moral, espancamento, abandono, por bebida, por droga, por agressão verbal. Eles machucam seus filhos e eles vão para o entorno. O entorno é consequência dos lares, dessas famílias. Se eu recupero as famílias, o entorno violento e perigoso desaparece. Então a Polícia trabalha o entorno e nós queremos trabalhar dentro, na raiz“, ressalta.

“Eu quero ser médico”, essa foi a afirmação do garoto Carlos Eduardo da Silva (16), morador do Gereba. Carlos vislumbra um futuro diferente à sua frente. “Não é porque eu sou da comunidade que eu não posso ter grandes sonhos”, afirma. O adolescente foi criado no Gereba e viu muitos dos seus amigos enveredarem para as drogas e para a violência. “Os meninos passam a tarde e a noite sem fazer nada”, ressalta. Em busca de seu sonho, Carlos não enxerga nenhum obstáculo. “Tudo é possível quando acreditamos em nós mesmos”, disse.

Trabalho continuado

A comunidade localizada dentro do bairro Jangurussu, na Área Integrada de Segurança 3 (AIS 3), ganhou, desde o fim de novembro do ano passado, reforço no policiamento local, com patrulhamento ostensivo intensificado e contínuo, ao mesmo tempo em que diversas ações sociais estão sendo desenvolvidas para propiciar oportunidades para as famílias que residem na área. As ações contam com a colaboração de parceiros, como a Prefeitura de Fortaleza, associações sem fins lucrativos e entidades privadas. A integração entre os parceiros tem possibilitado aos moradores uma nova perspectiva para o futuro. “Acreditamos que com a colaboração dos outros atores da sociedade, iremos devolver o território para a população de bem”, comenta o secretário André Costa.

Com a contribuição dos parceiros já foi possível fazer a instalação de novos postes de iluminação pública e demolir imóveis abandonados, que serviam para a prática de atividades delituosas na comunidade. Simultaneamente, os equipamentos da SSPDS, como a Plataforma de Observação Elevada (POE), o Centro Integrado de Comando e Controle Móvel (CICCM), a Delegacia Móvel da Polícia Civil e dois postos fixos de policiamento foram implantados na área – uma na Comunidade do Gereba e outro na Babilônia. Os equipamentos fazem parte de uma série de ações que estão sendo instaladas pela SSPDS nas duas comunidades. Desde então, não há nenhum registro de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) na região.

Iniciativas de outros parceiros estão em andamento, como é o caso dos times do Ceará e do Fortaleza, que se uniram à Secretaria do Esporte do Estado do Ceará (Sesporte) para levar escolinhas de futebol para as duas áreas. O convênio com os clubes é direcionado para fortalecer e dar oportunidade para as práticas esportivas nas comunidades carentes com a implantação de núcleos desportivos e doação de materiais esportivos, como coletes, uniformes e bolas. A iniciativa integra o Pacto por um Ceará Pacífico, que prevê ampliação do programa para outras comunidades da Capital.