Parceria entre policiais militares e educadores transforma comunidade escolar na Uniseg 1

10 de fevereiro de 2017 - 19:41

A antiga brincadeira infantil conhecida como ?Polícia e Ladrão?, na qual crianças correm umas atrás das outras representando os personagens descritos, corre risco de ser extinta entre estudantes de uma determinada escola localizada na Unidade Integrada de Segurança 1 (Uineg 1). ?É que todo mundo só quer ser Polícia?, explica, com risos e em clima de comemoração, Aline Saraiva, coordenadora da Escola de Ensino Municipal Godofredo de Castro Filho. A preferência da criançada não é por acaso. Os estudantes de 25 escolas situadas na área passaram a compartilhar o ambiente escolar com policiais militares do Projeto Ronda Escolar da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE). A ?extinção? do jogo ?Polícia e Ladrão? e outros assuntos foram dialogados por gestores de instituições de ensino, policiais e demais representantes do comitê do Pacto por um Ceará Pacífico, ontem (09), no bairro Vicente Pinzon ? Unieg 1.

A reunião foi realizada no Núcleo de Ações pela Paz no território do Ceará Pacífico. Conhecido como Na Paz, nessa quinta, o local foi cenário para discussões sobre as demandas geradas no ambiente escolar, no que se refere à segurança. ?Nós ouvimos os diretores e fomos surpreendidos por um espírito de gratidão muito grande?, cita o capitão Messias Mendes, comandante do policiamento da Uniseg 1 ? que compreende os bairros Vicente Pinzon, Cais do Porto e Mucuripe. O policial presenciou, ao longo do encontro, relatos de gestores que perceberam boas mudanças no comportamento de alguns alunos após a atuação do Ronda Escolar no ambiente estudantil, que segue os fundamentos de policiamento comunitário e realiza rondas nos horários de entrada e saída dos colégios e visitas às instituições e às casas dos alunos.

Na escola Godofredo de Castro Filho, os impactos causados pela presença dos militares foram além da sala de aula e chegaram às famílias dos alunos. A instituição fica localizada na Avenida José Sabóia, 905, no Vicente Pinzon, mas os ensinamentos e orientações levadas pelos militares ultrapassaram os portões do prédio e chegaram à residência de uma aluna do 8º ano. ?Eles (policiais) ajudaram na solução de vários problemas que achávamos que seriam irreversíveis, como o caso de uma aluna que, o pai e mãe sendo usuários de drogas, começou a levar drogas para vender na escola?, conta a coordenadora da instituição. A estudante participou de rodas de conversas com os agentes de segurança e educadores e, por consequência disso, ela deixou de faltar às aulas, adquiriu interesse e responsabilidade pelos estudos, deixou os entorpecentes e passou de ano. ?Hoje, ela cursa o 9º ano e até faz parte da escolhinha de surf. Se tornou uma atleta!?, comera a educadora, ao exemplificar o impacto da atuação da Polícia Militar dentro da escola.

A instituição oferece ensino para aproximadamente 1.300 estudantes, da creche ao Ensino de Jovens e Adultos (EJA), com exceção do Ensino Médio, com funcionamento nos três turnos. Outra mudança percebida foi a diminuição da evasão escolar. A turma do 9º ano de 2016 se formou com a desistência de apenas um aluno e, para Aline, isso representa uma conquista, já que o índice de desistência nesta séria era considerado muito alto. Nos alunos do 5º ano, a brincadeira de ?Polícia e Ladrão? deu lugar a jogos educativos e a pratica de esportes. ?Eles não brincam mais disso porque ninguém quer ser mais ladrão. Todos querem ser Polícia?, continua a educadora. A pedido dos estudantes, um tabuleiro de xadrez foi pintado no chão do pátio do colégio. ?Eles (alunos) perceberam que a Polícia não é vilã, mas que vem para ajudar?, declara, ao detalhar que a visão de todos em relação aos policiais mudou.

Mas as mudanças não foram percebidas só por parte das crianças e adolescentes. A relação entre professor e aluno também mudou. Ela conta que o nível de tolerância por parte dos educadores agora é maior e sua própria visão da Polícia foi modificada. ?Pra mim, foi um desafio. Eu não acreditava na Polícia e tinha receio, mas eles me fizeram mudar?, assume. As reuniões de pais, com os policiais, agora, também contam com a presença de pais que são ex-presidiários e que são monitorados por tornozeleira eletrônica. ?Antes eles não vinham. Agora eles valorizam a escola?.

As orientações são dadas a alunos e professores. Para estes últimos, os profissionais de segurança orientam a analisar o contexto familiar antes da busca pela solução do conflito e a perceber aspectos que denunciam o uso de drogas, como ferimentos nas mãos, mudanças de comportamento e olhos avermelhados, por exemplo. ?Eu aperriava muito eles (sic)?, declara Aline, ao concluir que o ambiente escolar se tornou outro após a chegada do Ronda Escolar. Agora, ela não precisa mais acionar os militares com tanta frequência. O trabalho desenvolvido em parceria com a comunidade escolar e a PM proporcionou um ambiente mais harmonioso para alunos, pais e professores. Além disso, a instituição também conta com a atuação do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd).