EM MINIATURAS: Ronda virou brincadeira de criança

22 de setembro de 2008 - 00:00

Ana Mary C. Cavalcante
da Redação

Viaturas recriadas em chapas de flandres alegram meninos pelas calçadas de Fortaleza. No Centro, comerciantes dizem que os modelos são os eleitos da vez

22/09/2008 01:00

Paulino Neto, 2, feliz da vida, sentou na calçada da rua 24 de Maio para brincar com o carrinho do Ronda do Quarteirão (Foto: RODRIGO CARVALHO/ESPECIAL PARA O POVO)

O governador Cid Gomes caprichou. Para cumprir uma das principais promessas de campanha, escolheu a camionete Hilux 4X4, motor 3.0, direção hidráulica, ar-condicionado, câmbio automático e equipou com câmeras, computador de bordo, GPRS (transmissor de dados via celular). Foram R$ 50 milhões para botar o projeto Ronda do Quarteirão nas ruas, em novembro de 2007. Distante do Palácio Iracema, acolá, na beira do rio Maranguapinho, o ex-agricultor Cícero Clarindo dos Santos, 46, também se esmera, com um pedaço de flandres e uma caixa de tintas. Viu a Hilux passando na rua Santa Maria, ?tiramo o molde?. O Ronda de lata, feito pelo artesão e inspirado na viatura-Hilux, sai a R$ 5 para revenda no Centro da cidade. Não tem computador de bordo, apenas o porta-malas se abre para conduzir o Ben 10 ?preso?.

Tudo o mais fica por conta da imaginação de Paulino Neto, 2, que, feliz da vida, sentou na calçada da rua 24 de Maio para brincar com o carrinho do Ronda. Inventou o recreio ao meio-dia, sorria para a foto abraçado com a mini-viatura. ?O pai vai passando com os meninos, eles vêem o carro e aperreiam: ?Pai, quero comprar o Ronda!??, relata o comerciante Manuel Gentil Eiras. A réplica é procurada ?desde quando surgiu o projeto?. Um dia, os artesãos dos tradicionais caminhões de madeira chegaram lá com os Ronda de flandres – que, ligeiro, tomaram a frente nas vendas. ?Antes, era os da PM e esses ônibus da Guanabara. Agora, só dá o Ronda!?, contabiliza o comerciante João Alberto Ires.

Uma recente pesquisa do O POVO/Datafolha, realizada com 816 pessoas, revelou 72% de aprovação em relação ao programa Ronda do Quarteirão; 5% avaliam-no como ruim/péssimo. O motorista desempregado Alexandre Gomes, pai do pequeno Paulino, é um dos que consideram o programa bom. ?A gente se sente mais seguro?, afirma, embora o Ronda ainda não tenha chegado a Pacatuba, a 30 quilômetros de Fortaleza, onde Alexandre mora. Por enquanto, o Ronda é esta história que o pai conta ao filho: ?A gente fala de polícia e de segurança. Quando ele vê o Ronda na televisão, dá um grito medonho (de alegria, segundo interpreta o pai)! Eu digo: ?Isso aí é pra proteger nós, filho??. De modo que Paulino não tem medo da polícia.

Nem Maria Madalena Ferreira dos Santos, mulher de seu Cícero-artesão e moradora do Bom Jardim. ?Acho eles (policiais do Ronda) educados e gentis. O povo chama, e eles só conversa, dá conselho?. Por isso, gosta de ver a viatura passar na rua. ?Eu adoro, é lindo!?. E tanto faz ser a Hilux 4X4 quanto os carros de lata que o filho, Francisco, aprendeu, no capricho, com o pai. ?Todos dois, acho bonito. Meu filho faz muito bem feito. É mesmo que tá vendo o Ronda… Mas o outro é melhor porque a gente anda montado de verdade!?.

E-Mais
As réplicas em flandres dos carros do Ronda do Quarteirão podem ser encontradas nos mercados Central e São Sebastião e na rua Castro e Silva, no quarteirão para onde foram os comerciantes do velho Mercado Central. Custam R$ 8,00. Os vendedores garantem que não há perigo para as crianças, apesar de ser feitas com lata.

O ex-agricultor Cícero Clarindo dos Santos aprendeu a fazer as réplicas ?só de ver?. Conta que, há 25 anos, também fabrica miniaturas de caminhões e ônibus. Pode fazer até 30 viaturas do Ronda por semana. E as encomendas são muitas, já estão no ?mei do mundo, por Canindé, Sobral…?.

Seu Cícero diz que, no interior de Alagoas, onde foi menino, ?o carro que nós brincava era de lata de óleo, quadrada. Furava quatro buraco, botava as roda e saía puxando?. Tal ciência, repassou para o filho. Francisco é outro artesão de carrinhos, há duas décadas, desde os sete anos.

Também próximo ao rio Maranguapinho, Edilson Cândido de Souza, 31, sustenta os seis filhos com os veículos de lata que faz. A propósito, brincou muito com os carros que o pai inventava. Até que, aos 8 anos, cresceu. ?Quando não sabia fazer, brincava. Aprendi com 8 anos?. Agora, não brinca mais e sonha menos. Se queria ter um ?carro mesmo, de verdade??, ele acha é graça da pergunta.

O bairro Bom Jardim foi uma das cinco áreas-piloto do Ronda do Quarteirão, implementado em 21 de novembro de 2007. O projeto abrange Fortaleza, Caucaia e Maracanaú. São 122 áreas, cada uma com, no máximo, três quilômetros quadrados (25 mil habitantes). Trabalham 12 policiais (1.464, no total), revezando-se em três turnos. São 264 viaturas (carros e motos).