De uma infância de dificuldades a delegada da Polícia Civil: uma trajetória de superação e desafios em busca de um sonho

7 de março de 2018 - 18:00 # # #

Na semana do Dia Internacional da Mulher, comemorado na próxima quinta-feira – 8 de março, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) preparou uma série de vídeos que contam um pouco da trajetória de mulheres que escolheram a segurança pública como ofício. As Polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMCE), a Perícia Forense (Pefoce) e a Academia de Segurança Pública (Aesp) escolheram uma representante, dentro dos seus respectivos quadros de pessoal, para mostrar a força, a garra e a determinação feminina. Os vídeos estão sendo exibidos nas redes sociais da SSPDS e de suas vinculadas. Até a próxima sexta-feira (9), diariamente, mostraremos uma nova história. O objetivo é mostrar que um dos segmentos profissionais no qual o poder feminino tem se consolidado é a Segurança Pública. Policiais, bombeiras e peritas desempenham suas funções com coragem, sem abrir mão da família ou do espírito materno. A inteligência, emoção, lógica, intuição, firmeza e sensibilidade são características inerentes a essas servidoras.

Ela poderia ser mais uma Maria dentre as milhares que já foram nomeadas com esse nome, mas Maria do Socorro Portela Alves do Rêgo (54) decidiu, aos 12 anos de idade, que não seria só mais uma. Socorro Portela, titular da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), veio de uma família humilde, que chegou a passar dificuldades financeiras. Ainda criança viu seu pai saindo de casa e deixando sua mãe sozinha para criar oito filhos, quatro homens e quatro mulheres. Por ser a primogênita no meio das irmãs, Maria teve que começar a trabalhar aos 14 anos para ajudar a mãe, dona Elvira, em uma pequena banca de frutas que ficava localizada na Rua 24 de Maio, no Bairro Centro, em Fortaleza. ”Quando via minha mãe saindo de segunda a domingo para trabalhar e não faltar comida na mesa, eu me sentir na obrigação de fazer algo também. Via na minha mãe uma determinação sem igual e isso veio pra mim”, afirma a delegada.

Socorro Portela morava próximo a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) e, todos os dias, quando estava saindo de casa para o trabalho, observava aquela imponente estrutura, projetando nas paredes da faculdade, um sonho: melhorar de vida. A adolescente gostava de observar os universitários indo e vindo com diversos livros. Isso despertou o interesse pela leitura. “Um dia eu e minha mãe passamos em frente à faculdade de Direito. Disse pra ela que estudaria ali e daria uma vida melhor pra toda a minha família”, conta. Sem dinheiro para comprar livros, a delegada tinha que andar três quilômetros, todos os dias, da sua casa até a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel. A leitura era seu refúgio e porta para dias melhores. “Eu não deixava nenhuma circunstância atrapalhar meus estudos e meus objetivos”, declara.

Aos 19 anos de idade, após uma intensa preparação, Socorro Portela conseguiu realizar o sonho de ingressar na Faculdade de Direito da UFC. Mesmo com condições escassas, a jovem concluiu o curso, sempre se destacando por suas notas e dedicação. Precisando de recursos para ajudar a família, começou a atuar como advogada. Durante as visitas ao Tribunal de Justiça do Ceará, outro objetivo nasceu: ser servidora pública no tribunal. Mais uma vez, a meta foi alcançada.

Além da Faculdade de Direito, outro prédio plantou sonhos em Socorro Portela, dessa vez a antiga Delegacia Central. Foi lá onde a sonhadora teve seu primeiro contato com inspetores, escrivães e delegados da Polícia Civil. Com o ímpeto de sempre, a servidora iniciou os estudos para se tornar delegada da Polícia Civil e, no ano de 2010, o objetivo foi cumprido. “Quando vi meu nome na lista de aprovados foi uma sensação única. Até hoje me emociono quando vejo que consegui chegar onde cheguei”, relata.

O primeiro lugar que Socorro Portela atuou como delegada foi a Delegacia Municipal de Morada Nova, onde presidiu inquéritos que tratavam de inúmeras prisões e apreensões. No currículo da policial, figuram ainda as distritais dos bairros Bom Jardim, Aldeota e José Walter, em Fortaleza; além da Delegacia Regional de Acaraú. Socorro Portela também esteve à frente da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do Ceará, onde foi responsável pela elucidação de alguns crimes de grande repercussão no Ceará. Duas investigações ainda são recentes na memória da titular da DCTD: a morte de Adriana Moraes e da filha de oito meses, Jade Carvalho, em uma casa de veraneio em Paracuru, no Ceará, em Agosto de 2015; e o caso de Rakelly Matias Alves, de 8 anos, que foi estuprada e morta por sufocamento, em setembro de 2016. Os dois crimes foram elucidados pela delegada e suas equipe de policiais.

Casada há 18 anos com o oficial de justiça Carlos Félix, a delegada garante que consegue conciliar a profissão com os deveres de uma vida social. “Não preciso me divertir muito porque me realizo plenamente no exercício do meu trabalho”, declara. Lourdes Portela, irmã da nossa homenageada, é diretora do Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa, em Aquiraz, que é o único presídio feminino do Ceará. “Minha mãe, mesmo com muitas dificuldades, conseguiu criar todos os filhos com dignidade e honra. Temos muito orgulho dela, assim como ela tem orgulho da gente”, ressalta.

“Chegar até aqui não foi fácil, tive a ajuda de várias pessoas. Meu pai, que era referência pra mim, abandonou minha família. Ajudei minha mãe a criar meus irmãos e continuo fazendo tudo para ela, porque ela é e sempre será minha maior inspiração. Às vezes não acredito que estou em locais de destaques ou reuniões importantes, tudo parece um sonho. As mulheres que desejam ingressar na carreira de delegada de Polícia Civil devem estudar muito, além de ter foco e determinação para alcançar os objetivos. Acredite em você, creia que é possível, vá e realize”, finalizou Socorro Portela.